O Rio Grande do Sul enfrenta uma crise de escassez de mão de obra, afetando setores-chave como indústria, comércio e construção civil. Empresas de engenharia, produção calçadista e construção relatam desafios crescentes para atrair e reter profissionais qualificados, enquanto a alta rotatividade eleva custos e limita a produtividade.
De acordo com dados recentes da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), no terceiro trimestre de 2024, cerca de 27% dos empresários industriais citaram a falta ou o alto custo de mão de obra qualificada como um dos principais obstáculos para manter as operações. Funções técnicas, essenciais ao andamento de obras, como acabamento e instalação elétrica, estão entre as mais prejudicadas.
No setor de construção, a disputa por profissionais levou a um aumento expressivo nos salários, conforme relata Claudio Teitelbaum, presidente do Sinduscon-RS. A Cyrela Goldsztein, por exemplo, viu os salários para pedreiros de alvenaria subirem 30% em dois anos. MRV e outras empresas também enfrentam escassez de profissionais para atividades como pintura e encanamento, fundamentais para a conclusão de projetos.
No comércio, a situação é semelhante. Segundo Patrícia Palermo, economista-chefe da Fecomércio-RS, as vagas temporárias enfrentam baixa adesão, especialmente em períodos de alta demanda. A falta de interesse por horários flexíveis e compromissos temporários dificulta ainda mais a reposição de trabalhadores.
Especialistas atribuem a escassez a fatores como a alta rotatividade e a busca por melhores condições salariais. A economista Maria Carolina Gullo, da Universidade de Caxias do Sul, observa que as novas gerações demonstram pouca fidelidade às empresas, preferindo migrar em busca de remuneração competitiva ou satisfação pessoal. Isso, somado ao envelhecimento da população e à ausência de políticas eficazes para atrair jovens, contribui para o desafio de retenção de talentos no estado, como aponta Claudio Bier, presidente da Fiergs.
As pequenas empresas são as mais impactadas pela falta de mão de obra qualificada. Segundo a Fiergs, 36,1% dos pequenos negócios relatam dificuldades em competir com médias e grandes empresas, que conseguem oferecer pacotes de remuneração mais atraentes.
No setor calçadista, a escassez de profissionais técnicos, como costuradores, ameaça a capacidade de atender à demanda projetada para os próximos anos, conforme destaca Haroldo Ferreira, presidente-executivo da Abicalçados.
Para enfrentar esses desafios, o governo estadual, em parceria com a Fiergs e outras entidades, discute estratégias de capacitação e incentivos para atrair e reter trabalhadores. A proposta inclui programas de qualificação profissional, estímulo para que jovens ingressem na indústria e construção civil, e iniciativas para estabilizar o mercado de trabalho local.
Resta saber se o Rio Grande do Sul conseguirá reverter esse quadro e assegurar a competitividade de setores estratégicos em meio à escassez de mão de obra qualificada.